quarta-feira, 12 de julho de 2006

O ESPÍRITO GUERREIRO


"Valente galo de rinha,
guasca vestido de penas;
quando arrastas as chilenas,
no tambor de um rinhedero,
no teu ímpeto guerreiro,
vejo um gaúcho avançando
ensanguentado, peleando,
no calor do entrevero.

Pois assim como tu lutas,
frente a frente, peito nu,
lutou também um xirú,
na conquista deste chão;
e como tu, sem paixao,
em silêncio, ferro a ferro,
caia sem dar um berro,
de lança firme na mão.
Evoco neste teu sangue,
que brota, rubro e selvagem,
respingando na serragem
do teu peito descoberto,
o guasca no campo aberto,
de poncho feito em frangalhos,
quando riscava os atalhas
do nosso destino incerto.
Deus te deu como ao gaúcho,
que jamais dobra o penacho,
essa altivez de índio macho
que ostentas já quando pinto;
e a diferença que sinto e que o guasca,
bem ou mal,
só luta por um ideal
e tu brigas por instinto.

Por isso é que numa rinha,
eu contigo sofro junto,
ao te ver quase defunto,
de arrasto, quebrado e cego,
como quem diz, não me entrego,
sou galo, morro e não grito,
cumprindo o fado maldito
que desde a casca eu carrego.

E ao te ver morrer, peleando,
no teu destino cruel,
sem dar nem pedir quartel,
rude gaúcho emplumado,
meio triste, encabulado,
mil vezes me perguntei:
por que é que não me boleei
para morrer no teu costado.

Porque na rinha da vida,
já me bastava um empate,
pois cheguei no arremate
batido, sem bico e torto,
e só me resta o conforto,
como a ti galo de rinha,
que se alguém dobrar minha espinha
há de ser depois de morto."
(Galo de Rinha, poema de Jayme Caetano Braun)

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